Conheça o contrabaixista Igor França, e viaje com seu disco “Crossing the Skyies”

 

Certa vez, conheci um baixista pela internet, seu nome era Igor França. Trocamos algumas mensagens no Myspace (rede social dedicada à música), e decidimos trocar discos. Ele me enviou o dele, e eu enviei o meu.

Pra dizer a verdade, quando o disco dele chegou, eu já tinha até me esquecido que tínhamos feito esse trato. Coloquei o disco no meu carro (lugar onde eu sempre escuto tudo que recebo), e lá o disco ficou durante meses. Minha surpresa e encantamento foi tamanha, que o disco virou a trilha sonora dos meus dias, por um longo tempo.

Estou falando do disco Crossing the Skyies, do talentosíssimo baixista Igor França que é o me entrevistado de hoje.

Primeiramente eu gostaria de agradecer por participar aqui, do Paula Bressann entrevista. É uma honra ter você aqui e poder saber um pouquinho mais da sua história na música.

R:A honra é minha, Paula ! Além de grande fã seu, você é uma pessoa muito estimada.

Igor, como foi o início da sua carreira como músico?

R:Meu início na música se confunde com a admiração por um baixista em particular e o gosto pela banda em que ele toca. Estou falando de Gene Simmons, do KISS. Quando comecei a curtir a banda, por volta de 1994, também passei a gostar do contrabaixo – muito disso tem a ver com a personificação do Gene com o instrumento. De lá pra cá, meu gosto por rock se aprofundou e se “dividiu” em três vertentes: hard rock (com bandas como Mr Big, Firehouse, Motley Crue), o fusion instrumental (Joe Satriani, Steve Vai) e rock progressivo/metal progressivo (Rush, Dream Theater). Esses três estilos acabaram moldando a minha carreira, onde toquei em bandas desses estilos e comecei a trilhar e “solidificar” a mesma.

A música instrumental no Brasil é pouco reconhecida, como foi que decidiu lançar um disco instrumental?

R:Não foi exatamente uma decisão, foi algo mais natural mesmo, muito pela minha busca por “trilhas sonoras” que remetessem o ouvinte a viagens mentais, literalmente. Pra mim (e falo isso pra todos os meus alunos), a música é a forma de arte que melhor transmite sentimentos pois, mesmo sendo as vezes “abstrata”, a pessoa consegue captar a mensagem. Então, a música instrumental que eu transmito é para que o ouvinte viaje nas melodias, estrutura e temática previamente elaborada. Isso eu sempre busquei nos instrumentistas que ouço, em muito eu encontrei, mas sentia falta de algo mais temático mesmo. Além da exploração do contrabaixo como instrumento “de frente”, que é um grande desafio.


O disco leva o ouvinte à uma viagem, quase como se estivesse ouvindo uma história, como foi compor para este disco?

R:A temática surgiu por conta de um momento em minha vida, até inusitado. Estava eu numa viagem de carro ouvindo Satriani… e por alguns momentos comecei a “viajar” (literalmente, risos). Pensei em como seria legal ter um CD que realmente fosse uma viagem, do encarte até a “bolacha” (a arte do meu CD de estréia é uma turbina que, literalmente, roda no aparelho de CD). Com o tema definido (uma viagem à algum lugar inesperado, inusitado e desconhecido), foi só bolar o começo e o fim, pois o meio já estava muito bem definido. Então, nada melhor como começar do começo MESMO (ou seja, do embarque), até o final, onde o ouvinte é quem “decide”, pois a viagem pode recomeçar (ouvir o CD novamente), ou esperar a segunda parte do trabalho, onde desenvolverei uma viagem mais mental, que é o que a última música remete.

O maior desafio foi, certamente, colocar o baixo em evidência e transmitir com melodias coesas, “assobiáveis” e fortes, sem deixar de lado a parte técnica, que eu sempre tentei explorar ao máximo, mas com a mesma coesão da construção das melodias, nada gratúito.

Como foi o processo de gravação deste disco?

R:Foi longo e demorado, pois nas gravações – feitas por mim, na minha casa – se confundiram com as idéias que surgiam a todo momento e também o processo de produção das faixas. Ao todo, demorou pouco mais de nove meses para a conclusão.
O processo ficou mais demorado pois, na época, alguns equipamentos eu peguei emprestado com amigos (que também gravaram nas faixas). Hoje só me falta mesmo um espaço maior (risos).
Quando comecei a gravar, aproveitei algumas músicas que tinha já gravado num CD demo (originalmente em fita, depois passado pra CD) e compus outras pra formar a estória do disco.

Alguns solos foram feitos por pessoas extremamente talentosas e amigas, com o auxílio da internet. Eu mandei algumas das faixas ou trechos e eles gravaram em seus estúdios e me mandavam de volta.

Na sua opinião as redes sociais e a internet, ajudam de fato na divulgação de um disco?

R:Hoje em dia, a disseminação da informação na internet é muito grande, fazendo com que a mesma não chegue de uma forma tão clara para as pessoas. Tenho convicção que a Internet é o melhor meio para divulgação, pois a informação chega em segundos – mas a mesma chega com outras ao mesmo tempo.
Minha carreira como instrumentista solo foi totalmente calcada na divulgação pela internet, mas senti isso na pele. São tantos divulgando ao mesmo tempo (com todo o direito), mas as pessoas pouco procuram novidades ou, quando procuram, encontram uma diversidade muito grande e ficam perdidas.
Talvez, se tivessemos apoio da grande mídia (rádio, revistas e TV), as coisas ficariam mais segmentadas e organizadas, facilitando o acesso das pessoas.

Como você enxerga o mercado musical, hoje no Brasil?

R:Na atualidade (me refiro a coisa de 4, 5 anos), as portas estão abertas para alguns segmentos, como a música instrumental. Mas são tão poucos meios de divulgar “na real” (leia-se tocar) que essas portas se tornam nulas.
Percebo que as pessoas desse segmento estão abertas a novidades, mas ainda faltam meios melhores pra que isso chegue até elas.
No âmbito geral, o mercado da música é muito restrito, pois não basta só talento pra que você apareça como deve. Essa é a parte chata, onde tudo virou um negócio de cifras astronômicas. E isso não é só no Brasil, mas, por conta da desigualdade social, aliado ao fato dos poucos meios de divulgação, se torna muito mais evidente na hora que você tá dando a cara à tapa.

Seu disco, por ser instrumental, deve ter bastante acesso ao mercado, no exterior. Isso é verdade?

R:Sim, a aceitação no mercado exterior foi excelente, com direito à prêmios de uma revista online como “melhor baixista revelação do mundo”. Além disso, as pessoas com uma cultura mais “aberta” são mais receptivas, não te olham procurando defeitos, e sim virtudes. Por conta dos meus poucos recursos financeiros na época do lançamento do CD (2008), não pude divulgar melhor meu CD, mas a receptividade foi ótima, tanto que alguns baixistas de renome e a revista que me premiou citou o fato de que eu deveria tentar a carreira lá fora, mas creio que por aqui eu preciso aparecer mais um pouco antes disso.

Quais são as suas referências na música?

R:Como citado, o meu “pai” na música e como contrabaixista foi Gene Simmons, mas atribuo o meu desenvolvimento para a música que faço hoje em dia à baixistas como Billy Sheehan (Mr BIG), Zuzo Moussawer (baixista solo brasileiro), Stuart Hamm (com quem tive contato breve na ExpoMusic em 2008) e John Myung. Este último mais pelo fato da banda em que toca (Dream Theater) de que como baixista, apesar de o achar excelente.


Onde podemos comprar o seu disco?

O disco hoje está “engavetado” (risos), na verdade ele teve uma tiragem muito pequena (100 cópias). Na época do lançamento, quando estava divulgando, as pessoas queriam mesmo é baixar na internet… então, como CD não deixa ninguém rico (risos), o disco está disponibilizado para download. Também pelo fato de melhor disseminação no mundo todo, com menos burocracia e tempo, digamos assim.

www.igorfranca.com

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