Artistas Brasileiros protestam contra Google (Youtube).

Está em processo uma disputa judicial movida pelo Google contra a União Brasileira das Editoras de Música (Ubem) e o Escritório Central de Arrecadação e  distribuição (ECAD). O que está em questão é a forma de pagamento feita pelo Google em relação aos direitos autorais. Hoje o Youtube paga pelo direito de execução de determinada música, este valor é quase sempre revertido para a gravadora ou artista e o compositor em questão nunca vê a cor do dinheiro. O que os artistas estão protestando é justamente para que haja uma forma mais transparente de pagamento.

Hoje o Youtube paga um percentual, que é determinado pela receita de publicidade gerada em cada vídeo, mais isso nada tem haver com nossas leis de direito autoral. Não existe hoje no youtube um pagamento por execução (pelo número de views) direcionado aos direitos autorais. Ou seja é uma disputa legitima dos artistas brasileiros, já que a pratica do youtube tem hoje infringido seus direitos estabelecidos nas nossas leis. Porém o assunto é polemico porque o ECAD calcula os valores de acordo com os critérios do Regulamento de Arrecadação, criado pelos próprios titulares da instituição, a partir de suas associações musicais. No total, são seis associações efetivas e três administrativas e muitas vezes suas cobranças são motivo de questionamentos e revolta. Diferente de outros países, o ECAD no Brasil não é regulado por uma instituição, gerando os problemas de fiscalização que já acontecem em vários segmentos, inclusive na área de eventos.

Agora vamos falar sobre alguns pontos que eu acho interessante:

Brasileiros não apoiam brasileiros.

Estive lendo os comentários pela internet sobre o assunto e o comentário mais recorrente é: Olha o comunista virando capitalista só porque afetou seu bolso (geralmente em referencia ao Chico Buarque que foi um dos apoiadores da campanha da Dilma e é um dos apoiadores desta disputa com o Google).

Gente, isso não é uma questão politica. Acordem, o Google não está distribuindo conteúdo de forma socialista! kkkkkk Eles geram bilhões de renda com isso. Agora, como esperar apoio de um povo que julga ser ok a distribuição de cds piratas, ou baixar músicas de forma completamente gratuita na internet?

Já discuti esta questão até mesmo com músicos que também baixam músicas pelo youtube etc, e nunca consegui provar meu ponto de vista, mas vamos lá vou tentar mais uma vez:

Se você tem o costume de furar fila, como pode reclamar da corrupção? Nós brasileiros temos o péssimo habito de julgar que atos menores de desrespeito são aceitáveis. Na minha visão comprar um CD, ou pagar por um serviço de streaming representa meu respeito pelos artistas. Talvez eu pense assim porque eu mesma (como artista independente), tive um custo elevadíssimo para produzir um produto de qualidade para depois receber centavos pela execução do mesmo no youtube.

O que eu vejo no Brasil é um consumo cego. As pessoas consomem coisas sem pensar o que ela está apoiando. Quando você compra música ilegal está apoiando a ilegalidade. Quando compra uma blusinha por R$5,00 reais está apoiando o trabalho escravo e por ai vai, mas quantos de nós estamos realmente dispostos a tomar responsabilidade sobre nossas escolhas? É mais fácil pensar que o que eu faço não afeta em nada o todo, ou justificar nosso erro com o erro do outro, ou seja: O ECAD aje em seu favor então não vou pagar por um cd, ou os políticos roubam o tempo todo então não vou pagar impostos. Isso vira uma bola de neve onde todos escolhem errar por um motivo ou outro.

As pessoas não lêem

As maior parte das pessoas não lêem os artigos de jornais e revistas até o fim e isso é uma coisa que me irrita, confesso.

Saiu um artigo muito bacana sobre o assunto na REVISTA EXAME, escrito de forma informativa e imparcial sobre o caso e no facebook os comentários são completamente sem fundamento. Percebe-se que poucos lêem o artigo até o fim. Sem contar na quantidade de gente que perde tempo fazendo estes comentários (sempre improdutivos) muitas vezes desviando o foco de um assunto que pode beneficiar milhares de artistas.

Veja alguns comentários:

Artistas independentes seriam beneficiados

Ao contrário do que o artigo descreve, hoje em dia a maior parte dos artistas independentes também são representados por alguma editora, e participam também deste tipo de receita. Isso é muito benéfico para estes pequenos produtores e compositores mas poucos pensam nisto. Sempre que assuntos assim surgem as pessoas pensam nos grandes artistas e no modo com eles geram receita através de shows, mas esquecem que pequenos produtores (não menos importantes) não tem uma receita substancial vinda de shows, muito menos os compositores que nem sempre são os intérpretes das música e realmente ficam de fora.

Nossa lei protege compositores mas não é aplicada

Embasado na Lei Federal nº 5.988/73, o ECAD é mantido pela atual Lei de Direitos Autorais brasileira (nº 9.610/98). Uma parcela do dinheiro arrecadado fica com o próprio órgão, que teoricamente usa o valor para manter sua estrutura. O ECAD fica com 17% do total arrecadado, enquanto 7,5% é repassado para as associações cobrirem a administração de suas despesas operacionais. Já os 75,5% restantes são repassados para os titulares filiados, ou seja, para os detentores dos direitos das obras executadas.

Nossa lei garante a remuneração por execução de uma música para seus autores, mas mesmo antes do advento da internet a lei não era de fato aplicada para pequenos produtores. Você sabia que para ter um rádio tocando uma música de fundo em um consultório dentário seria preciso pagar direitos de execução? Isso porque a música esta sendo usada para incrementar um ambiente que gera RENDA. Mas o fato é que pequenos produtores nunca vêem esse dinheiro. Na minha experiência como artista independente é de se estranhar que eu sempre tenha pagamentos por execução e distribuição das minhas músicas mas nunca acumulei um centavo pela autoria das mesmas no ecad.

Enfim, é uma discussão longa mas que deveria ser levado mais a sério. Iniciando por nós consumidores ao nos questionarmos onde nosso dinheiro está sendo empreendido ao fazer uma compra e como ajudar e apoiar os verdadeiros produtores de conteúdo seja ele qual for. E obter a clareza de que se você realmente pensa em igualdade de oportunidades (essa conversa de socialismo sem embasamento algum), deveria pensar que os pequenos produtores existem e são hoje uma parcela importante na produção cultural no Brasil e que estão completamente a margem de qualquer beneficio existente no mercado. Em sua grande maioria continuam a produzir por amor a arte em um investimento sem fim.  Onde fica a igualdade de oportunidades quando você julga que produzir música é algo à ser feito gratuitamente?